Sobre as máscaras!
Ela está cansada de teatros. Passou a vida toda vivendo cenas e criando personagens para agradar a outros. Foi obrigada a sorrir quando tudo o que desejava era um colo onde pudesse chorar em paz; fez companhia quando o que desejava eram alguns minutos de sossego; dançou publicamente quando tudo que precisava era de um deserto onde pudesse caminhar sozinha, sem expectadores. Mas não foi possível, estava sendo avaliada o tempo todo. Era obrigada a trocar abraços indesejados, inventar um sorriso e tentar mantê-lo ali, intacto; dizer palavras carinhosas a pessoas às quais desejava ardentemente desprezar e, isso durou até perceber que enquanto fazia teatro aceitando a outros, desprezava a si mesma. Sua face sorria enquanto a alma gemia de dor. Agora está tentando disciplinar sua nova vida. Decidiu que será mais verdadeira e encenará o mínimo que puder. Não quer ser áspera, mas busca o direito de ser ela mesma. Está disposta a matar, um por um, cada personagem que criou ao longo de sua vida. Não será fácil, pois está tão familiarizada com alguns, que parecem fazer parte de sua essência.