Centro de Referência Estadual da Igualdade passará a atender vítimas de racismo e de LGBTfobia
O Centro de Referência Estadual da Igualdade (Crei) passará a oferecer apoio psicológico também a pessoas vítimas de racismo e de LGBTfobia, a exemplo do que é dado a mulheres vítimas de violência doméstica e aos autores.
A ação será lançada dentro da programação que o Governo de Goiás definiu, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds), em referência ao Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro.
O Crei é o responsável pelas políticas estaduais de enfrentamento a qualquer forma de violência de gênero, racismo, combate à homofobia e ao tráfico de pessoas, por meio de atendimentos da equipe multidisciplinar.
“Tivemos uma excelente experiência do quanto o apoio psicológico é valioso para quem passa por algum tipo de abuso. No curso dos Grupos Reflexivos sobre Gênero e Violência Doméstica, foi constatado pela Seds que o índice de reincidência registrado foi de apenas 8% entre os autores de violência que receberam orientação de profissionais da psicologia. A média nacional é de 20%, segundo dados da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos”, explica a secretária da Seds, Lúcia Vânia.
A superintendente da Mulher e da Igualdade Racial, da Seds, Rosi Guimarães, explica que os atendimentos serão disponibilizados para as pessoas vítimas de discriminação racial e de preconceito, do grupo LGBTQIA+, dentre outros.
“Eles, assim como as mulheres vítimas de violência doméstica, vão receber dos mesmos psicólogos do Crei acompanhamento para melhorar a autoestima, além de orientações jurídicas. É também uma forma de valorizar a cultura deles”, observa.
Como ter acesso
Os atendimentos do Crei, devido à pandemia de Covid-19, estão sendo feitos unicamente de forma virtual, pelos telefones (62) 98306-0191 e (62) 3201-7489.
“Por meio desses contatos, a pessoa que for vítima de discriminação racial passará por uma avaliação inicial, para, então, ser agendado o atendimento psicológico e/ou jurídico de forma on-line”, explica a gerente de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, Juliana Caiado, que acompanha os atendimentos às mulheres no Crei.
Após os primeiros atendimentos, as vítimas são avaliadas e encaminhadas para tratamento no próprio Crei ou, caso necessário, encaminhadas para tratamentos específicos.
Psicologia é grande aliada
Psicóloga do Crei, Heloísa de Casto explica que o órgão é o responsável pelas políticas estaduais de enfrentamento a todas as formas de violência. Nele, o trabalho da psicologia é fundamentado em acolher as pessoas que tiveram seus direitos violados. O primeiro objetivo é mostrar à vítima a importância dela ter procurado o Crei para contar o que sofreu, como sofreu.
“É também o momento de entender a visão dela, de possibilitar a compreensão da dor dela. Tudo é confidencial, para dar possibilidade dela superar o momento de estresse e o trauma, para que ela tome o que chamamos de decisão saudável, sendo uma delas a denúncia contra os agressores.”
De acordo com Heloísa, o atendimento proporciona o fortalecimento das vítimas de racismo para que elas consigam resolver o caso. “Isso diminui nelas o sentimento de injustiça. E, também, serve para demonstrar a outras pessoas que quem a agrediu está errado. E que a lei a protege”, observa a psicóloga.
Heloísa explica que o racismo e a desigualdade de gênero são fatores culturais, que geram impactos de geração em geração. Essa cultura racista e que preza pela desigualdade de gênero influencia nas gerações de famílias que são vítimas e também nas que são autoras.
“É passado de pais para filhos, e o estresse do trauma do racismo gera consequências mentais e físicas nos agredidos. Acontece que o organismo se adapta aos vários momentos de estresse, mas leva a panes no sistema mental da pessoa, que fica com a mente desequilibrada com o racismo que sofre a vida inteira. Essa exposição ao estresse causa danos físicos, como sono irregular e suscetibilidade ao alcoolismo e uso de drogas, devido ao racismo que recebem”, diz Heloísa.
Dentre os benefícios dos atendimentos, segundo destaca, está o esclarecimento às vítimas. “Essas pessoas sentem um alívio quanto à pressão que sofrem. Elas percebem que isso é cultural e que são vítimas a longo prazo e que precisam romper esse ciclo. Elas precisam se fazer entender que são iguais a qualquer outra pessoa do mundo”, finaliza a psicóloga.