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“Nosso principal desafio é crescer de forma inclusiva e sustentável” disse Pérsio Arida ex-presidente do BNDES e Banco Central no LIDE Brazil Conference

Segundo dia da conferência, realizada nos EUA, reuniu integrantes da equipe de transição do governo eleito. (Foto: Vanessa Carvalho)

Novo governo, novos desafios econômicos. Para discutir o futuro e os principais desafios da economia brasileira sob o comando de um novo presidente e um contexto internacional, autoridades monetárias de nível nacional, além gestores públicos e privados participaram de exposições e debates no segundo dia de LIDE Brazil Conference – New York, realizado na manhã desta terça-feira (15), no Harvard Club sobre o tema “A Economia do Brasil a partir de 2023”.

Os expositores participantes da conferência foram Roberto Campos Neto (presidente do BC), Henrique Meirelles (ex-ministro da fazenda e ex-presidente do BC), Isaac Sidney (presidente da Febraban), Joaquim Levy (diretor do Banco Safra e ex-ministro da Fazenda), Pérsio Arida (ex-presidente do BNDES e do BC, integrante da equipe de transição do novo governo), Rodrigo Garcia (governador do Estado de São Paulo), e Rubens Ometto (presidente do Conselho de Administração do Grupo Cosan).

A moderação dos painéis foi do jornalista, colunista de O Globo, escritor, analista político da Globo News, conselheiro editorial do Grupo Globo e membro da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira.

Na abertura do evento, o ex-presidente Michel Temer teceu comentários positivos sobre o futuro do Brasil, reforçando a importância das reformas econômicas, tributárias e trabalhistas realizadas durante o seu governo para abrir caminhos para o crescimento do país, dando o tom das discussões que aconteceram pela manhã.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, abriu a rodada de exposições com uma análise do contexto econômico internacional antes e depois da pandemia para explicar os efeitos desse acontecimento no aumento da inflação, na diminuição da capacidade de investimentos internacionais, a importância da realização de reformas, de forma a preparar o Brasil para um novo momento.

Com a ideia de que a pandemia seria passageira, os países deslocaram um grande volume de recursos para combatê-la. Devido à falta de mobilidade causada pelo isolamento social, houve grande demanda por bens de consumo e pouca por serviços, fazendo com que existisse também uma maior demanda por energia elétrica para produzi-los, aumentando custos e a inflação de forma persistente. Ainda no exterior, a invasão da Ucrânia, a alta demanda por energia na Europa e a crise na distribuição de fertilizantes também levaram ao aumento dos preços e da taxa inflacionária.

Diante deste cenário complexo, o Banco Central tem trabalhado insistentemente para reduzir as taxas de juros e tornar a economia brasileira ainda mais atrativa para os investidores internacionais. Porém, ele salienta que é preciso reformas estruturais.

“O mundo precisa de reformas. O Brasil já fez várias, mas precisamos mostrar para quem investe no país que temos disciplina fiscal”, explicou. “Nós precisamos de um conjunto de políticas que olhe para o lado social, mas que nos dê credibilidade para atrair investimentos externos e estimular o empreendedor brasileiro a apostar no crescimento do seu negócio”.


O economista Henrique Meirelles, ex-ministro da fazenda e ex-presidente do Banco Central, falou na LIDE Brazil Conference sobre o momento da discussão do orçamento do Governo Federal para 2023 e sua adequação às reais necessidades do país, mesmo que seja necessário pedir, via emenda constitucional ao Congresso Nacional, um valor extra para fechar as contas.


Em sua opinião, é necessário debater o que fazer depois de subir o aumento das despesas do governo. Meirelles destaca São Paulo como um exemplo de reforma administrativa que permitiu equilibrar as contas com a venda de estatais sem finalidade para o estado e o fim da concessão de benefícios tributários desnecessários.

“É uma discussão difícil no Brasil, mas com isso poderemos ter um orçamento para os próximos anos que nos dê condições de crescer de uma forma sustentável”.
 

Com uma fala centrada no crescimento econômico do país ligado ao setor bancário, Isaac Sidney, presidente da Febraban, ressaltou que o crescimento médio de 0.5% na economia brasileira nos últimos anos não está ligado somente às circunstâncias internacionais, mas também à forma como o país conduz sua política econômica e faz investimentos. Antes de conseguir taxas de crescimento altas e duradouras, segundo ele, é necessário “arrumar a nossa casa” do ponto de vista fiscal.

“O modelo de investimento do poder público se exauriu, precisamos buscar modelo que tenha no capital privado a centralidade. Temos que reconhecer que o modelo de investimento precisa perseguir a liderança do capital privado”, afirmou. “Temos que canalizar os investimentos em áreas sociais, saúde, educação, formação de mão de obra, e reforma e eficiência do estado”.


O ex-ministro da Fazenda e diretor do Banco Safra, Joaquim Levy apresentou um histórico dos avanços conquistados na política econômica brasileira nas últimas duas décadas, apesar dos riscos e taxas de inflação internacionais. Entre eles, destacou a retomada do emprego, a queda significativa da taxa de informalidade, o aumento da escolaridade dos brasileiros como fator para o aumento da produtividade do país, disseminação de tecnologias e inovações financeiras, mercado regulado de crédito de carbono, além de vários outros.


“Ter e alcançar metas é importante para o governo ter mais confiança por parte do mercado privado. A estabilidade fiscal e estabelecimento de claras metas para diversos setores do governo pode nos ajudar a tirar vantagens dos avanços que o Brasil viveu nos últimos 20 anos que nos fez mais fortes”, pontuou.

O ex-presidente do BNDES e Banco Central, o economista Pérsio Arida é membro da equipe de transição econômica para o novo governo e fez uma exposição com base nos principais desafios a serem enfrentados pelo na área econômica, porém com um ponto de vista social e ambiental.

“Nosso principal desafio econômico é crescermos de forma inclusiva e sustentável. Mas é perfeitamente possível reverter esse quadro”, afirmou.

Segundo ele, o Brasil enfrenta um cenário internacional adverso causado pela recessão norte-americana e pelo aumento de juros nos Estados Unidos, que afeta diretamente o país. Mesmo assim, é possível ambicionar um nível mais alto de crescimento econômico, desde que se trabalhe pela inclusão social a longo prazo e educação para assegurar igualdade de oportunidades no futuro, programas sociais emergenciais que atendam as pessoas marginalizadas e com insegurança alimentar, transformar o desafio ambiental em uma oportunidade para geração de recursos e atração de investimentos externos.

Para que o Brasil seja capaz de crescer no longo prazo, Arida reforçou a importância da condução de três reformas que precisam ser acompanhadas por mudanças culturais no país: abertura e integração com o mundo, reforma de estado e reforma tributária.

“Sem encaminhar essas reformas, um estado mais eficiente e mais produtivo, dificilmente o Brasil conseguirá taxas de crescimento que assegurem uma convergência de sua renda em relação aos países desenvolvidos no período de dez ou vinte anos”.

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