Polícia

Para salvar o Rio Araguaia

Recuperá-lo é imperativo de sobrevivência de todo o bioma do Cerrado

Ronaldo Caiado

A consciência ambiental é fenômeno relativamente recente na política mundial. Remonta à segunda metade do século passado e pagou o custo de ter sido inicialmente difundida num tom militante e acusatório, que provocou reações de igual intensidade.

Havia pouca ciência e mais a tentativa de dar ao tema conotação ideológica ou partidária, que não tem. Mas os avanços científicos se impuseram e hoje o tema vem ganhando o sentido ecumênico de que precisa estar revestido. Meio ambiente não é de direita ou de esquerda. Situa-se na esfera do bem comum, como direito e dever de todos.

Dentro desse espírito, e tendo em vista não apenas o zelo com o presente, mas também (e sobretudo) visando às futuras gerações, os governos de Goiás e de Mato Grosso, com apoio do governo federal, estão lançando, em parceria, o programa “Juntos pelo Araguaia”. Trata-se do maior projeto de recuperação de bacias hidrográficas já empreendido no país. Vai recuperar as nascentes da Bacia do Araguaia em 27 municípios de Goiás e do Mato Grosso.

Por sua dimensão, tal obra estaria fora do alcance de um único ente federativo. Daí a importância dessa tríplice parceria, que poderá servir de modelo (e tomara que sirva) a diversas outras, país afora.

São cinco mil hectares do lado do Mato Grosso, até a região de Alto Taquari, e cinco mil hectares em Goiás, entre a região de Mineiros e Caiapônia. A primeira etapa, a ser anunciada em ato solene, em Aragarças (GO), com a presença do presidente da República, Jair Bolsonaro, e do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, envolve a recuperação das cabeceiras.

Dito assim, num enunciado meramente técnico, talvez não se perceba a magnitude desta iniciativa, que, para além de marco na história ambiental brasileira, terá imenso alcance humanitário.

Nós, que habitamos o Centro-Oeste (o coração do Brasil), somos todos filhos do Rio Araguaia. Ele nos nutre e provê, viabilizando nossa agricultura – a mais pujante do país e uma das maiores do mundo –, dando sustento e sustentabilidade ao nosso desenvolvimento econômico, social e cultural.

Alguns milhões de brasileiros (goianos, matogrossensses, tocantinenses, paraenses) dele dependem diretamente. Outros, numa escala ainda maior, são beneficiários indiretos, pelos frutos proporcionados pelo agronegócio, que coloca comida boa, barata e abundante na mesa dos brasileiros e garante há décadas, com as exportações, superávit na balança comercial.

Sem o Rio Araguaia, provedor silencioso de nosso progresso, nada disso seria possível. Nos seus dois mil quilômetros de extensão, simboliza para nossa região o que o Rio São Francisco representa para o Nordeste e o Rio Amazonas para a região Norte.

O Araguaia é acima de tudo um símbolo de união: une Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Pará, regiões Centro-Oeste e Norte. E une, por onde passa, os que dele se beneficiam: populações ribeirinhas, produtores rurais, comerciantes, empresários, consumidores, turistas – todos nós, enfim.

Não obstante, a negligência de sucessivas administrações colocou em risco este nosso imenso patrimônio, hoje sob ameaça de assoreamento. Ele, que tanto nos beneficiou, está agora a nos pedir socorro. E, ao socorrê-lo, estamos socorrendo a nós mesmos, pois dependemos da plenitude de sua vitalidade.

Recuperá-lo é imperativo de sobrevivência de todo o bioma do Cerrado, da diversidade de sua fauna e flora. E, por extensão, de sua gente. Não podemos deixar de constatar o dano da ação humana. Mas também não podemos deixar de constatar que é possível revertê-la – e é o que estamos fazendo com esse projeto.

Estamos convictos de que não se chega a uma política ambiental verdadeiramente justa, eficaz e equilibrada demonizando uns aos outros. A natureza é um bem comum, que impõe a todos sincera e efetiva comunhão de propósitos. Do contrário, ela, a natureza, continuará a ser a maior vítima da insensatez humana.

Ronaldo Caiado é governador de Goiás

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